Erasmus na Roménia: Um outro olhar sobre um país diferente
por Natacha Meunier
João Pedro Rodrigues, actualmente professor de educação física na Escola Secundária da Lousã nasceu na Figueira e, apenas com 29 anos já conta uma longa história de viagens e exploração um pouco por todo o mundo. É provavelmente pelo seu espírito aventureiro e sempre atento ao que o rodeia, como o próprio diz, que em 2001 integrou o projecto Erasmus. Professor há já seis anos, João Pedro conta-nos em primeira pessoa a sua experiência enquanto aluno e pessoa numa cultura sem dúvida diferente da sua.
P. De onde surgiu a ideia de participar no programa Erasmus?
João Pedro: A ideia surgiu quando andava a estudar na Universidade de Coimbra e na minha faculdade existia um gabinete de relações internacionais que estava a divulgar informações sobre um programa recente que era o Erasmus. Achei curioso e visitei o gabinete a fim de saber um pouco mais sobre o que era. Tive alguns colegas de curso que também já o tinham feito e dado um feedback muito bom acerca disso. Ainda fiquei relutante em relação à ida mas a frase de uma professora fez-me mudar de ideias, “Vão para aprender, não o que se aprende na escola mas, fora dela”
P: Como se deu o processo de escolha do país e que dificuldades se impuseram?
J.P: No início pensei em ir para o Brasil pela facilidade de comunicação mas só depois vim a saber que este projecto se dava apenas a nível europeu. A responsável indicou-me então um outro país em que colegas meus se estavam a dar bastante bem, a Roménia. Além de ter uma base linguística muito semelhante à nossa também era uma boa escolha em termos económicos, assim o subsídio atribuído daria para as despesas e para a manutenção. Estava escolhido, Roménia seria.
P: Como foi a recepção do país?
J.P: Fui recebido muito bem, com um grande espírito de abertura e cooperação, aliás com uma situação bastante caricata. A senhora que me recebeu disse-me que este ano não ia ter o mesmo problema que os meus colegas do ano passado. Pegou em mim e duas colegas que iam comigo, estávamos muito curiosos, e levou-nos pela cidade toda até um supermercado e por fim mostrou-nos uma embalagem de leite. Sem continuar a perceber a situação, perguntámos como aquilo nos resolveria os problemas. Só depois nos apercebemos que somente há muito pouco tempo aquele país tinha começado a comercializar leite embalado, até ali era vendido apenas leite do dia.
P: Que percepção teve acerca da Roménia no decorrer da sua estadia?
J.P: Quando cheguei e, até pelo episódio de “boas-vindas”, dei-me de caras com um país tecnologicamente muito atrasado em relação ao meu. Senti-me como um pioneiro. Para dar um exemplo, nós levávamos portáteis enquanto para eles essa tecnologia era uma “coisa de outro mundo”. Para dar uma ideia, o ordenado mínimo de um professor era 25€ e os preços do produtos não mais baratos do que em Portugal. Vive-se com muita dificuldade e principalmente, para meu espanto, com muita corrupção. Sempre pensei que países com uma economia menos desenvolvida tivessem menos propensão à corrupção, no entanto a corrupção é feita às claras na Roménia. Cheguei inclusive a ter um professor a explicar quanto valia cada nota. Também ao nível do dia-a-dia fiquei surpreendido pelo regime alimentar que é levado naquele país devido às suas dificuldades financeiras. Para as pessoas que conheci, o facto de eu comer sopa, prato principal e sobremesa era um assombro. Percebi que era dado muito valor às acções mais simples.
P: Que experiências mais o marcaram e conduziram a esse ponto de vista?
J.P: Vi a Roménia como um país um pouco fechado ao resto do mundo pelo conjunto de situações que me foram acontecendo. Como a das embalagens de leite, que já referi, aconteceu-me uma situação semelhante com passadeiras. Estava a sair da faculdade quando um aluno me interceptou muito prestável e me disse que podia utilizar as listas brancas da estrada para passar para o outro lado da rua, disse-me que se estivesse ali durante um bocado os carros paravam. Apercebi-me que ele não fazia ideia de que existiam passadeiras nos outros países.
Ainda uma outra situação do género quando um colega romeno fazia anos e levei-lhe uma t-shirt e uns pinos que tinha da Figueira, uma mera lembrança, que lhe provocou um “ataque” de gratidão. Achei estranho apenas até ao jantar quando os amigos mais chegados lhe ofereceram um par de cuecas que para ele pareceu o mundo. A vida é mesmo difícil naquele país e fiquei a saber que o simples acto de oferecer um par de cuecas implicava privar-se de um bem essencial.
P: Em suma em que medida o programa Erasmus contribui mais na sua vida?
J.P: A mais valia foi em termos de crescimento pessoal, de saber que existem diferentes culturas e que as temos que saber observar não há luz na nossa mas de acordo com cada contexto. Fui capaz de apreciar novas formas de estar e de as saber compreender no conjunto de histórias por que passei e pelas pessoas que conheci.
Sem comentários:
Enviar um comentário