segunda-feira, 24 de maio de 2010





Descoberta carta que prova a existência de material nuclear em Israel


Um acordo secreto da era do “apartheid” revela que o então primeiro ministro de Israel tentou vender armas nucleares à África do Sul.
Descobertas por um académico norte-americano as minutas assinadas pelos então primeiros-ministros dos dois países são a prova de que Israel possui arsenal nuclear que até agora nunca tinha confirmado a presença deste tipo de material no terreno israelita.
Datados de 1975 os documentos mostram que os dois chefes de estado se chegaram memo a encontram nas negociações, referem ainda uma política de segredo da África do Sul quanto à proveniência israelita do material nuclear.
A notícia avançada pelo jornal inglês the Guardian adianta ainda que houve pressões por parte do governo Israelita para que os documentos não fossem desclassificados e Polakow-Suransky não tivesse acesso aos acordos.  

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Erasmus na Roménia: Um outro olhar sobre um país diferente
por  Natacha Meunier
 João Pedro Rodrigues, actualmente professor de educação física na Escola Secundária da Lousã nasceu na Figueira e, apenas com 29 anos já conta uma longa história de viagens e exploração um pouco por todo o mundo. É provavelmente pelo seu espírito aventureiro e sempre atento ao que o rodeia, como o próprio diz, que em 2001 integrou o projecto Erasmus. Professor há já seis anos, João Pedro conta-nos em primeira pessoa a sua experiência enquanto aluno e pessoa numa cultura sem dúvida diferente da sua.
P. De onde surgiu a ideia de participar no programa Erasmus?
João Pedro: A ideia surgiu quando andava a estudar na Universidade de Coimbra e na minha faculdade existia um gabinete de relações internacionais que estava a divulgar informações sobre um programa recente que era o Erasmus. Achei curioso e visitei o gabinete a fim de saber um pouco mais sobre o que era. Tive alguns colegas de curso que também já o tinham feito e dado um feedback muito bom acerca disso. Ainda fiquei relutante em relação à ida mas a frase de uma professora fez-me mudar de ideias, “Vão para aprender, não o que se aprende na escola mas, fora dela”
P: Como se deu o processo de escolha do país e que dificuldades se impuseram?
J.P: No início pensei em ir para o Brasil pela facilidade de comunicação mas só depois vim a saber que este projecto se dava apenas a nível europeu. A responsável indicou-me então um outro país em que colegas meus se estavam a dar bastante bem, a Roménia. Além de ter uma base linguística muito semelhante à nossa também era uma boa escolha em termos económicos, assim o subsídio atribuído daria para as despesas e para a manutenção. Estava escolhido, Roménia seria.
P: Como foi a recepção do país?
J.P: Fui recebido muito bem, com um grande espírito de abertura e cooperação, aliás com uma situação bastante caricata. A senhora que me recebeu disse-me que este ano não ia ter o mesmo problema que os meus colegas do ano passado. Pegou em mim e duas colegas que iam comigo, estávamos muito curiosos, e levou-nos pela cidade toda até um supermercado e por fim mostrou-nos uma embalagem de leite. Sem continuar a perceber a situação, perguntámos como aquilo nos resolveria os problemas. Só depois nos apercebemos que somente há muito pouco tempo aquele país tinha começado a comercializar leite embalado, até ali era vendido apenas leite do dia.

P: Que percepção teve acerca da Roménia no decorrer da sua estadia?
J.P: Quando cheguei e, até pelo episódio de “boas-vindas”, dei-me de caras com um país tecnologicamente muito atrasado em relação ao meu. Senti-me como um pioneiro. Para dar um exemplo, nós levávamos portáteis enquanto para eles essa tecnologia era uma “coisa de outro mundo”. Para dar uma ideia, o ordenado mínimo de um professor era 25€ e os preços do produtos não mais baratos do que em Portugal. Vive-se com muita dificuldade e principalmente, para meu espanto, com muita corrupção. Sempre pensei que países com uma economia menos desenvolvida tivessem menos propensão à corrupção, no entanto a corrupção é feita às claras na Roménia. Cheguei inclusive a ter um professor a explicar quanto valia cada nota. Também ao nível do dia-a-dia fiquei surpreendido pelo regime alimentar que é levado naquele país devido às suas dificuldades financeiras. Para as pessoas que conheci, o facto de eu comer sopa, prato principal e sobremesa era um assombro. Percebi que era dado muito valor às acções mais simples.

P: Que experiências mais o marcaram e conduziram a esse ponto de vista?
J.P: Vi a Roménia como um país um pouco fechado ao resto do mundo pelo conjunto de situações que me foram acontecendo. Como a das embalagens de leite, que já referi, aconteceu-me uma situação semelhante com passadeiras. Estava a sair da faculdade quando um aluno me interceptou muito prestável e me disse que podia utilizar as listas brancas da estrada para passar para o outro lado da rua, disse-me que se estivesse ali durante um bocado os carros paravam. Apercebi-me que ele não fazia ideia de que existiam passadeiras nos outros países.
Ainda uma outra situação do género quando um colega romeno fazia anos e levei-lhe uma t-shirt e uns pinos que tinha da Figueira, uma mera lembrança, que lhe provocou um “ataque” de gratidão. Achei estranho apenas até ao jantar quando os amigos mais chegados lhe ofereceram um par de cuecas que para ele pareceu o mundo. A vida é mesmo difícil naquele país e fiquei a saber que o simples acto de oferecer um par de cuecas implicava privar-se de um bem essencial.

P: Em suma em que medida o programa Erasmus contribui mais na sua vida?
J.P: A mais valia foi em termos de crescimento pessoal, de saber que existem diferentes culturas e que as temos que saber observar não há luz na nossa mas de acordo com cada contexto. Fui capaz de apreciar novas formas de estar e de as saber compreender no conjunto de histórias por que passei e pelas pessoas que conheci.


Quem cala consente

Desde 1994 até 2007 foram registados em Coimbra 5.560 casos de Violência Doméstica pela APAV. 589 decorreram em processos legais.
Apenas em 2002 foi considerada crime público. A Violência Doméstica existe. Apesar de ser maioritariamente de marido para mulher, abrange todas as idades, sexos e estratos sociais. A tendência não é para o aumento de casos mas para o número de queixas e de pedidos de ajuda. Acredita-se que existe mais consciência para a acção e cada vez mais informação disponível, o mito do silêncio do que se passa “dentro de portas” está a começar a desaparecer assim como o número dos que calam e consentem. O tema ainda assim é delicado assim como a ajuda, no entanto em Coimbra existem pelo menos dois locais especializados neste problema, a APAV e a secção de Violência Doméstica da GNR.

Começa cedo o dia de um técnico de violência doméstica, logo pelas dez da manhã surgem os primeiros telefonemas, acções de sensibilização, seminários, palestras e, pedidos de ajuda. Natália Cardoso, uma das responsáveis pelo GAV de Coimbra, explica entre diálogos interrompidos por telefonemas e papéis o que faz no seu gabinete, que apesar de pequeno, já acolheu algumas centenas de vítimas e onde curiosamente se pode encontrar uma embalagem de lenços de papel prestes a acabar.

Salta logo à vista um cartaz numa das paredes relativo a uma campanha onde se pode ler “ Quem cala consente. Não se cale. Se foi ou conhece alguém que foi vítima de crime não se cale. Não consinta.”. Natália explica como tudo começa, com um telefonema. As vítimas de violência doméstica ligam a pedir ajuda de todos os tipos, psicológica, jurídica, social ou apenas para falar com alguém, para desabafar. O trabalho dos técnicos do GAV é tentar o mais possível trazer essas pessoas à sua presença uma vez que “o apoio presencial é muito mais eficaz”, como afirma Natália.

A jurista confirma que presencialmente existe uma melhor percepção do que se passa em cada caso e diz ainda que “a violência doméstica é maioritariamente conjugal ainda que pontualmente apareçam casos de filhos agressores e de idosos vitimados, este tipo de violência dá-se normalmente em ciclo. Existe uma primeira fase de tensão em que aumentam as discussões e começa a agressão verbal, a explosão onde se dá o chamado rebentar do saco e ocorre e agressão física e finalmente a dita fase de lua-de-mel em que o agressor se arrepende e faz tudo para que a vítima o perdoe”.

Já com o tempo escasso Natália explica que não pode entrar em detalhes sobre cada caso pelos contornos de sigilo dos mesmos, de qualquer forma pode afirmar que “cada caso é um caso e somos formados com vista a tratá-lo como tal”, a APAV pretende então acima de tudo encaminhar as situações de acordo com a especificidade de cada uma e prestar o máximo de apoio psicológico às vítimas que passam a porta de cada gabinete. Como ONG não possui o poder de representar legalmente as vítimas ou de lhes fornecer o apoio económico directo, pode no entanto orientar cada situação para, por exemplo, uma casa de acolhimento ou para um novo emprego.

Existe um mito de que a violência doméstica ocorre na maioria em meios rurais, Natália confirma-nos o contrário. “ Tanto numa aldeia perdida no interior como aqui no centro de Coimbra, existe crime, pode no entanto existir uma maior propensão à apresentação de queixa nas classes mais baixas, não por haver mais casos nesta classe mas pelo facto de classe alta não se querer expor e ter outros meios de resolver a situação, podem ser advogados e psiquiatras mas pode também ser o silêncio pela vergonha social no seu estatuto”. Natália Cardoso despede-se assim apressadamente e regressa ao telefone e aos papéis que fazem parte da sua vida há mais de dez anos, anos em que a violência está tão presente na sua vida que já passou “da ferida ao calo”.

Já o sol vai alto quando outro especialista nesta área dita as primeiras palavras em tom ameno e paternal, Vítor Simões, cabo chefe da GNR de Coimbra, começa então a revelar um pouco do que se passa do outro lado. “ É depois da queixa que entramos em acção, acção que passa pela realização de inquéritos e da apreensão de possíveis armas”. Vítor Simões diz que infelizmente a percentagem é de noventa e nove homens para uma mulher agressora, “ainda temos muitos machos latinos que se acham capazes de usar e abusar das mulheres e parecendo mentira ainda se indignam aquando questionados com respostas como bato e o problema é meu, bato quando quiser e ninguém tem nada a ver com isso.” 

O agente da autoridade explica ainda um caso-tipo dos cerca de já duzentos desde o inicio do ano, “Chega-nos às mãos um caso de uma mulher casada há dez anos que se queixa de ter sido batida e agredida constantemente há uns meses para cá, as agressões psicológicas já duram há bastante tempo, mas a agressão começou há uns meses. A senhora afirma ter pensado que seria uma fase mas na sequência da brutalidade e repetição das agressões decidiu apresentar queixa. Avançados com os processos legais, auto de denúncia, relatórios da medicina legal, é oferecida protecção imediata até porque o marido a terá ameaçado e aos filhos com uma arma perante a possibilidade de divórcio. A partir daí está nas mãos da justiça e o que mais podemos fazer é interrogar envolvidos e testemunhas e tentar apurar a verdade. Tudo o que tenha a ver com acolhimento, protecção e condenação é apenas encaminhado”. Com alguma tristeza e pesar, Vítor Simões remata dizendo que estes processos são demorados apesar de já ter havido uma evolução significativa e que todos os cidadãos são obrigados a reportar qualquer tipo de violência doméstica uma vez que é crime público.

Acaba assim o dia quase na pele de uma vítima mas ainda mais na pele de quem trata de todos estes casos que parecem não ter fim a julgar pela quantidade de papéis envolvidos e pelas histórias quase mórbidas que se vão ouvindo. Acaba também com uma frase no ouvido, “Quando o Benfica perde levamos todos!”.




Natacha Meunier